Angola - Sem P&D, seguimos na contramão da prosperidade

É urgente, Angola e demais países da África precisam embarcar o quanto antes na jornada de criação de um ambiente propicio a inovação. Dos 59 países que mais investe em “Pesquisa e Desenvolvimento” (P&D) no mundo, nenhum deles é africano. África é o continente que mais depende das exportações de matéria prima (com baixo valor agregado) enquanto segue importando grandes quantidades de bens intermediários, de tecnologia ou associados a inovação (com alto valor agregado).

É justo admitirmos que certo processo deve ser respeitado, não podemos saltar da indústria transformadora para a produção de grandes inovações, igualmente, devemos admitir o facto de estarmos presos numa indústria básica, fraca e pouco dinâmica desde que nos conhecemos como nação independente.

A muito, a concorrência por meio da inovação demostrou ser a força motriz da economia capitalista, facto que, em processo continuo, tem remetido os países desenvolvidos e emergentes a intensificarem seus investimentos em P&D, através de iniciativas governamentais e/ou estímulos a iniciativas privadas. A “tecnologia e a inovação” representam dois dos principais motores do crescimento e desenvolvimento econômico de uma nação, e nós (angolanos), seguimos desatentos a essa questão.

É indiscutível o facto de o setor da inovação acarretar consigo um alto risco, o que torna indispensável a geração de políticas de modo a incentivar o setor produtivo (principalmente) a investir em P&D. As empresas/marcas mais valiosas e as melhores Universidades do mundo, encontram-se nos países que mais investiram em P&d. Existe uma relação diretamente proporcional entre entre desenvolvimento econômico e investimentos em P&D.

Analisando todos os OGEs de Angola disponíveis ao público, desde 1991, exatos 30 anos, em média, o país investiu 0% em P&D, sendo que, nesta cifra, estão incluídos recursos destinados a:

Pesquisa e extensão nas universidades; Investigação marítima; Investigação cientifica; Investigação aplicada e experimentos militares; Investigação aplicada e experimentos de saúde; Pesquisa/desenvolvimento tecnologico no sector petrolífero; Desenvolvimento cientifico e tecnológico; I&D¹ na agricultura, silvicultura, pesca e caça; Investigação básica; Investigação e desenvolvimento em protecção do ambiente; I&D em assuntos económicos; I&D na indústria extractiva, transformadora e construção; I&D em assuntos económicos, comerciais e Lab. em geral; Investigação e desenvolvimento em educação; I&D nos transportes.

Reitero, nos últimos 30 anos, o país destinou 0% do seu Orçamento nos serviços listados no parágrafo anterior, literalmente, estamos na contramão do desenvolvimento, não investir em P&D é tão perigoso quanto não investir no capital humano.

Em meio a pandemia que assola o mundo, países como Canada e Alemanha criaram fundos de investimentos com fim a apoiar empresas inovadoras em iniciativas voltadas a minimizar os impactos da Covid-19. Enquanto Reino Unido e EUA seguem investindo diretamente em pesquisa e conhecimento, é consenso entre os países desenvolvidos e alguns emergentes, o facto de, mais investimento em P&D estar associado a maior desenvolvimento e melhor qualidade de vida.

No ano passado (2020), Canadá, Reino Unido Alemanha e EUA investiram até 11,8%, 10,8%, 6,3% e 4,1% respectivamente dos seus orçamentos em P&D. Vale destacar aqui, também, a Índia, onde o Governo lançou diversas iniciativas importantes para impulsionar a inovação. Diversos incentivos fiscais estão sendo oferecidos pelo Departamento de Pesquisa Científica e Industrial do Governo da Índia (DSIR) para atividades de P&D realizadas por instituições, por universidades e pela indústria para apoiar e promover suas inovações e levá-las a bom termo.

Nos últimos 20 anos, o Brasil estabeleceu diversas políticas públicas e instrumentos de financiamento e apoio à inovação. O governo criou programas de crédito, incentivos fiscais, bolsas para projetos de pesquisa em empresas, linhas de capital semente e investimentos de capital em startups, além de bolsas tradicionais para pesquisas em universidades e institutos públicos. “Certas questões econômicas dispensam experimentos, basta olhar para as outras economias”.

Todos os anos, o IGC (Índice Global de Inovação) classifica o desempenho em matéria de inovação de mais de 130 economias em todo o mundo, infelizmente, Angola não consta na lista. Na América do Norte destacam-se os EUA e o Canada. Na Europa - Suécia, Suíça e Reino Unido. Na Ásia – Singapura, Coreia do Sul, Hong Kong e China. No Norte da África e Ásia Ocidental – Israel, Chipre e Emirados Árabes Unidos. Na América Latina – Chile, México e Costa Rica. Na África Subsaariana - África do Sul, Quênia e Tanzânia.

Normalmente, os setores com os gastos mais altos com P&D são: “Hardware e equipamentos eletrônicos para TIC” e “Produtos farmacêuticos e biotecnologia”. Falando em “farmacêuticos”, faz décadas que o paludismo e a malária são duas das doenças que mais matam em Angola, entretanto, nenhum dos remédios destinado ao combate destas, é produzido no país². A grosso modo, inexistem laboratórios farmacêuticos no país onde a independência foi proclamada por um médico – ignoramos a Pesquisa, ignoramos o Desenvolvimento.

A inovação é o caminho, é o futuro – o futuro começa agora, é fundamental repensarmos todos os dias qual Angola (África) queremos para as gerações vindouras.




¹Os termos I&D e P&D podem ser entendidos como sinônimos, nos OGEs consultados, várias vezes constatou-se I&D em vez P&D.

²Quando enfoco a necessidade da produção nacional, não me refiro ao nacionalismo, mas, na produção interna feita por nacionais ou estrangeiros. Na geração de produtos com rótulos “Made in Angola”, na geração e alargamento de novos postos de empregos diretos e indiretos.


Escrito por: Alexandre F. Quinguri  09/07/2020.

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